segunda-feira, 18 de outubro de 2010

CIBERCULTURA

Segundo Lévy (1999), a cibercultura corresponde ao conjunto de técnicas, sejam materiais ou intelectuais, de atividades, modos de pensamentos e valores que se desenvolvem. Ao mesmo tempo, o ciberespaço torna-se cada vez mais amplo. Também, segundo o autor, corresponde à globalização concreta das sociedades, que inventa um universal sem totalidade. Ou seja, a cibercultura corresponde às interações sociais ligadas às novas tecnologias da informação aliadas ao desenvolvimento surpreendente dos hardwares (componentes físicos) e softwares (sistemas operacionais e programas) que causaram alterações nas relações sociais ao longo do globo. Atualmente, navegar através da rede mundial de computadores, bater papo nos chats, usar telefones celulares, smartphones, ipods, etc, passou a fazer parte do cotidiano das pessoas que tem acesso a este tipo de tecnologia. Podemos perceber que é uma nova maneira de sociabilidade que resulta na criação de pessoas com determinadas características individuais. Como exemplos, podemos citar os hackers, erroneamente confundidos com os verdadeiros piratas de computador cujo objetivo é criar programas que prejudicam os usuários, os conhecidos vírus, que trazem grandes problemas para a sociedade, não só em relação à perda de informações preciosas como também no que diz respeito à perda de dinheiro, roubo de senhas entre outros problemas. Na realidade, esta é uma prática dos crackers, pois os hackers são pessoas que possuem um bom conhecimento de informática e são capazes de combater diversos tipos de técnicas que visam prejudicar a rede mundial de computadores.

O advento da cibercultura também promoveu a vinda da chamada "era digital", onde um tempo, quase real, media as relações on-line e estabelece novos conceitos de espaço, tempo e interação social. Encontramo-nos, de certa maneira, encerrados num lugar, ou melhor, num não-lugar, onde novas formas de realizarmos os procedimentos comunicativos são apresentados de maneira multimediática, assim aproveitando a convergência dos media pré-existentes para um "local": o ciberespaço. (RIBEIRO, 2008, p. 1).

O termo ciberespaço foi usado pela primeira vez pelo escritor William Gibson, em seu livro Neuromancer, em 1984. Segundo ele, o ciberespaço é uma “alucinação consensual, que pode ser experimentada através de softwares especiais”. É importante salientar também que o conceito de ciberespaço não compreende apenas um local de grande troca de informações, ou seja, entre rede de computadores que se conectam ao longo do globo e online, mas também compreende um ambiente como o da realidade virtual.

Segundo Lévy (1999), as tecnologias digitais surgiram adequadas ao ciberespaço, novo espaço de sociabilidade, comunicação, organização e também novo mercado de informação e conhecimento.

Percebe-se o quanto o ciberespaço pode ser explorado devido as sua característica interativa. Diferentemente das mídias tradicionais que permitem aos seus espectadores apenas o recebimento de informações, a cibercultura permite a comunicação de forma democrática possibilitando a interferência de seus usuários em todo conteúdo a ser veiculado em seu espaço. Ou seja, enquanto os espectadores das mídias tradicionais apenas observam, os usuários do ciberespaço participam. No entanto, Lévy (1999, p. 79), nos alerta que a interatividade muitas vezes é invocada de várias maneiras, como se todos soubessem perfeitamente do que se trata:

O termo “interatividade” em geral ressalta a participação ativa do beneficiário de uma transação de informação. De fato, seria trivial mostrar que um receptor de informação, a menos que esteja morto, nunca é passivo. Mesmo sentado na frente de uma televisão sem controle remoto, o destinatário decodifica, interpreta, participa, mobiliza seu sistema nervoso de muitas maneiras, e sempre de forma diferente de seu vizinho. Além disso, como os satélites e o cabo dão acesso a centenas de canais diferentes, conectados a um videocassete permitem a criação de uma videoteca e definem um dispositivo televisual evidentemente mais “interativo” que aquele da emissora única sem videocassete.

Analisando a citação acima, percebemos que a interatividade, na realidade, possui graus diferentes. Ainda segundo Lévy (1999), depende da possibilidade de reapropriação e de recombinação material da mensagem por parte do receptor.

Para Lévy (1999, p. 82), o grau de interatividade de uma mídia ou de um dispositivo de comunicação pode ser medido em eixos bem diferentes, como podemos observar a seguir:

  • As possibilidades de apropriação e de personalização da mensagem recebida, seja qual for a natureza dessa mensagem;
  • A reciprocidade da comunicação (a saber, um dispositivo comunicacional “um-um” ou “todos-todos”);
  • A virtualidade, que enfatiza aqui o cálculo da mensagem em tempo real em função de um modelo e de dados de entrada;
  • A implicação da imagem dos participantes nas mensagens;
  • A telepresença.

Outro aspecto levado em consideração pelo estudioso nessa concepção (1999, p. 82) é que:

Cada dispositivo de comunicação diz respeito a uma análise pormenorizada, que por sua vez remete à necessidade de uma teoria de comunicação renovada, ou a menos uma cartografia fina dos modos de comunicação. O estabelecimento dessa cartografia torna-se ainda mais urgente, já que as questões políticas, culturais, estéticas, econômicas, sociais, educativas e até mesmo epistemológicas de nosso tempo são, cada vez mais, condicionadas a configurações de comunicação.

Com base na reflexão apresentada na citação anterior, percebemos que Lévy nos alerta sobre a necessidade de um novo trabalho de análise dos meios de comunicação, por mais diversificados e híbridos que sejam. O fato de um computador permitir a interação entre ele e o usuário, quando utilizado como ferramenta educativa, por exemplo, não é certeza de sucesso quanto a esse objetivo, ao menos que sejam levados em consideração vários fatores que podem pesar de forma positiva ou negativa.

Qualquer reflexão sobre o futuro dos sistemas de educação e de formação na cibercultura deve ser fundada em uma análise prévia da mutação contemporânea da relação com o saber. Em relação a isso, a primeira constatação diz respeito à velocidade de surgimento e de renovação dos saberes e savoir-faire. (...) A segunda constatação, fortemente ligada à primeira, diz respeito à nova natureza do trabalho, cuja parte de transação de conhecimento não pára de crescer. (...) Terceira constatação: o ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que amplificam, exterioriza e modificam numerosas funções cognitivas humanas: memória (bancos de dados, hiperdocumentos, arquivos digitais de todos os tipos), imaginação (simulações), percepção (sensores digitais, telepresença, realidades virtuais), raciocínios (inteligência artificial, modelização de fenômenos complexos). (LÉVY, 1999, p. 157).

Percebe-se que a cibercultura também possui grande influência na educação. Por esse motivo, é necessário e indispensável uma análise profunda a esse respeito. O conhecimento além de se multiplicar com uma velocidade cada vez maior faz com que as competências adquiridas pelos profissionais se tornem inviáveis com o passar do tempo. Assim, é preciso que o aprendizado seja um processo constante na vida dos indivíduos que não desejam ficar para trás. Vale salientar que isso não significa apenas aprender, mas também transmitir saberes e contribuir com a construção de conhecimentos.

O ciberespaço, interconexão dos computadores do planeta, tende a tornar-se a principal infra-estrutura de produção, transação e gerenciamento econômicos. Será em breve o principal equipamento coletivo internacional da memória, pensamento e comunicação. Em resumo, em algumas dezenas de anos, o ciberespaço, suas comunidades virtuais, suas reservas de imagens, suas simulações interativas, sua irresistível proliferação de textos e signos, será o mediador essencial da inteligência coletiva da humanidade. LÉVY, 1999, p. 167).

Percebe-se que existe a necessidade de reestruturação da educação para que ela se adéqüe a esta nova realidade. Este novo suporte de informação e de comunicação é responsável pelo surgimento de novos gêneros de conhecimento e critérios de avaliação para orientar o saber. Assim, exige indivíduos com um perfil capaz de orientar o saber na produção e tratamento dos conhecimentos.

Parafraseando Lévy (1999), não é possível aumentar o número de professores de forma que atenda satisfatoriamente à demanda de formação. Nos países pobres, essa necessidade é ainda mais evidente. Por esse motivo, existe a necessidade de encontrar outras alternativas para minimizar essa carência. Como exemplo, temos várias técnicas capazes de ampliar o esforço pedagógico dos professores e dos formadores: Audiovisual, “multimídia” interativa, ensino assistido por computador, televisão educativa, cabo, técnicas clássicas de ensino a distância, todos sustentados em material escrito, tutorial por telefone, fax ou Internet. Ainda segundo ele, mais ou menos pertinentes de acordo com a situação, conteúdo e necessidades dos estudantes. Os custos das infra-estruturas destes métodos virtuais voltados para escolas e universidades são menores em relação às escolas e universidades materiais que fornecem ensinamento presencial.

Autor: Emmanuel França

Retirado da Monografia: FERRAMENTAS GRÁFICAS: DESAFIOS E POSSIBILIDADES COM VÍDEOS TUTORIAIS



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